Tudo indica que vai ser um "grande" mês de dezembro. Compraremos e distribuiremos presentes como nunca; provaremos de vez que o país saiu da crise de 2008.
Não importa,
o Brasil já está entre os campeões mundiais em extravagância perdulária natalina. Claro, há muitos países ricos que, no Natal, gastam mais do que a gente, mas o que vale, nessa classificação, não são os valores absolutos, mas as vendas do varejo no mês de dezembro comparadas com as dos meses contíguos. Ora, em dezembro, no Brasil, gastamos cerca de 40% a mais do que as média de novembro e janeiro.
Sem críticas ao costume de oferecer presentes e os "excessos" das festas - a questão que interessa é outra: toda consideração moral à parte, será que os gastos natalinos são um bom negócio para a economia? Ou seja, gastando para presentes e ceias, estamos mesmo criando e distribuindo riqueza?
Joel Waldfogel, professor da Wharton (a famosa escola de administração da Universidade da Pensilvânia), acaba de publicar um pequeno livro, seriíssimo e divertido, "Scroogenomics - Why You Shouldn't Buy Presents for the Holidays" (Scroogeconomia - por que você não deve comprar presentes para as festas; Princeton Univ. Press). O livro defende que o Natal é uma calamidade econômica, durante a qual nossas sociedades, a cada ano, destroem riquezas consideráveis.
Para começar, Waldfogel repetiu em vários contextos culturais uma mesma experiência: perguntou a grupos de presenteados quanto eles se disporiam a pagar para adquirir os objetos que acabavam de receber.
No Brasil (em 2008) o resultado foi que, em média, os presenteados estariam dispostos a pagar, pelos presentes que tinham recebido, 47% a menos do que os ditos presentes tinham custado para os presenteadores. Ou seja, 47% do que foi gasto pelos presenteadores não produziu valor nenhum, perdeu-se na transação.
Entendeu? É um raciocínio simples mas de difícil apreensão: digamos que comprei para você, por R$ 100. Mas você, se tivesse que comprar o mesmo objeto, pagaria, no máximo, R$ 53. Ou seja, minha despesa subvencionou o comércio e a produção do objeto que comprei, mas ela foi uma catástrofe econômica: quase a metade do que gastei não serviu para nada. Joguei dinheiro fora.
Quer gostemos ou não da tradição natalina de trocar presentes, seria bom, comenta Waldfogel, que conseguíssemos, ao menos, tornar essa troca mais produtiva. Obviamente, Waldfogel aprova o uso do vale-presente (embora, nos EUA, misteriosamente, um vale-presente em cada dez não seja nunca resgatado) e nos encoraja a oferecer dinheiro, sem constrangimento.*
- Quem quer ganhar dinheiro de presente de Natal? Só se for uma bolada, tipo mega-sena, senão não vale.
- Presentes em dinheiro revelam-se tão pouco criativos... Frequentemente o presenteaedo "some" com o dinheiro e, em pouco tempo, nem se lembra mais do que comprou com ele.
- Talvez seja bom mesmo racionalizar nossas trocas natalinas, como sugere o Prof. Waldfogel.
Mas fica sempre o desejo (ou a fantasia) de recebermos algo que, até então, literalmente, não sabíamos que queriamos.
O verdadeiro presente é aquele que nos revela nosso próprio desejo.
Surpreenda-me!
* crônica do psicanalista Contardo Calligari (Folha de São Paulo,
3 de dezembro de 2009)