quinta-feira, 19 de março de 2009

"Sou um caixa eletrônico"

O blog mantêm o foco no tema consumo de moda mas engata o carrinho de compras em um balcão tortuoso e derrapa no balcão de hortifrutigranjeiros.
Nunca imaginei que traria este assunto para cá, mas a Revista TPM e sua excelente reportagem de capa me estimularam e eu acabei me empolgando com a salada de frutas que saiu. Então, topa descascar essa melancia?
FIM DE FEIRA
O fenômeno das mulheres hortifrúti invadiu a cena brasileira. De costas! Bailarinas e cantoras(sic) de funk remexem seu bumbum-celebridade com entusiasmo. Em seus shows, as mulheres frutas sobem no palco ao som de músicas compostas para elas, espécie de hinos. "Bota o melão para quicar/ Bota o melão para quicar", canta o MC Frank, parceiro da Mulher Melão, acompanhado pela multidão. "O meu lema é este aqui: Solteira sim, sozinha nunca/Sou garota melancia/E rebolo a minha bunda” canta a Mulher Melancia. A coreografia, no caso das duas, acompanha as letras. Melão pula cada vez que ouve a ordem de quicar seus seios. E Melancia levanta a bunda em direção ao público enquanto todos gritam.
E a Mulher Filé (ou Yani de Simone, 19 anos) faz o quê? Pede cartões de crédito para o público, escolhe um e passa o objeto – pasme – no meio de suas nádegas. "Antes eu fazia o pisca-bumbum, que é o movimento de contração das nádegas. Mas comecei a achar muito sem graça e quis dar uma incrementada. O Catra (Mr. Catra, líder da banda e personalidade do funk há 20 anos) sugeriu passar um cartão de crédito e eu achei legal, engraçado", conta. "Gosto da viagem das pessoas. Não tenho vergonha nenhuma, acho superdivertido, sou um caixa eletrônico que, às vezes, engole o cartão!"
Pois Mr. Catra, ao passar o cartão de crédito no bumbum da Mulher Filé, está dando uma imensa contribuição às reflexões sobre a feminilidade contemporânea. Afinal, essa imagem sintetiza, como poucas, o ideal de consumo que sorvemos mensalmente nas páginas das revistas: o corpo turbinado, representação da mulher poderosa, em relação obscena com um cartão de crédito. Nada mais preciso. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, especialista em corpo e sensualidade, essas dançarinas-frutas sintetizam a sociedade brasileira: "Nossa cultura sempre valorizou o corpo e a sexualidade como um capital", afirma.
Não sobram dúvidas: é o corpo feminino, sarado, sujeito a toda sorte de intervenções médicas e estéticas, que faz a roda da mídia girar.
  • Ou você continua achando que existe muita diferença entre as mulheres fruta e as übber models que desfilam para a Victoria's Secrets?
  • E a dúvida que me aflige: Como fica o rebolado da Mulher Filé quando topar com um daqueles cartões com chip?
  • Informação inútil: sabia que a Mulher Melão (Renata Frisson) é oriunda (rima com... raimunda) de Balneário Camboriú? E a Mulher Samambaia (Danielle Souza), também.

* texto em itálico, extraído da revista TPM, fevereiro 2009.