terça-feira, 25 de agosto de 2009

Prejuízo invisível*

O furto representa hoje 38,1% das perdas do varejo brasileiro. Dependendo do segmento de atuação do varejista, essa parcela pode ser ainda maior, chegando a 57,5%, como no caso de eletroeletrônicos.

A lista de produtos visados é extensa, mas muitos reúnem qualidades comuns: são pequenos e têm alto valor agregado. A explicação é simples: são mais fáceis de carregar e de revender no mercado paralelo. Pilhas, aparelhos de barbear, acessórios para informática e para ferramentas, como brocas e serras, cosméticos, protetores solares e até aparelhos eletroeletrônicos são bastante visados.

O consultor especializado em varejo Marco Antonio Geraigire faz uma distinção. Para ele, os produtos-alvo de furtos externos, feitos por clientes, são os de necessidade da pessoa ou da família, como medicamentos, ou ainda os que têm mais procura no mercado informal. Já os de furtos internos, feitos por colaboradores, são objetos de desejo ou que podem ser consumidos dentro da loja.

As consequências desse tipo de ação são claras: redução da margem de lucro e, consequentemente, da competitividade. Mesmo assim, investir em sistemas de segurança e de controle de perdas ainda não se tornou procedimento padrão. Para Patricia Vance, coordenadora do núcleo de prevenção de perdas do Provar/FIA (Programa de Administração do Varejo da Fundação Instituto de Administração), a falta de investimento em prevenção de perdas é uma questão cultural. Até a estabilização da economia, em 1994, com o Plano Real, ganhava-se com a inflação. Agora, exige-se eficiência na operação para manter (ou aumentar) a margem de lucro e sobreviver no mercado. Por isso, complementa, coibir os furtos é uma questão de sobrevivência para o varejista.

Hoje os consumidores têm mais consciência de custo, o que impede que esse prejuízo seja repassado para os preços. Mesmo assim, diz o economista Marcel Solimeo, da ACSP (Associação Comercial de São Paulo), muitos comerciantes lançam mão desse recurso para tentar aplacar as perdas. "É inevitável. A perda por furto deve compor o preço".

Segmentos

O segmento mais afetado é o de eletroeletrônicos. Mas outros não ficam atrás. No atacado, os furtos representam 46,1% das perdas. Vestuário soma 46%; drogarias, 42,1%; supermercados, 35,4%; e material de construção, 33,8%.

Controle

Para o coordenador do Núcleo de Varejo da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), Ricardo Pastore, as formas de controle e prevenção do furto devem ser incorporadas na gestão da empresa."Isso começa com uma boa gestão de estoque, o que muitos varejistas ainda não têm".

Prevenção e Segurança

Prevenir-se de perdas é mais do que instalar câmeras. Antes de fazer qualquer alteração, o empresário precisa ter mapeados os produtos mais furtados, o impacto no orçamento e a frequência com que o furto ocorre. O mapeamento deve ser abrangente, não é só na loja que ocorrem furtos. Em cada ponto de mudança da cadeia, como transporte, entrega e estocagem, há riscos. Somente depois de ter um mapa completo do problema é que o empresário deve escolher os equipamentos. O objetivo não deve ser o flagrante, mas evitar que o furto ocorra. Câmeras, por exemplo, funcionam mais pelo aspecto psicológico - muitas nem ficam ligadas!

Investimento

Para quem se preocupa com os custos, o executivo da FocusMind, Walter Uvo, exemplifica: "Com um investimento de R$ 800, é possível instalar quatro câmeras de segurança".

Treinamento da equipe Independentemente da escolha, há um item do qual o empresário não pode abrir mão - o treinamento da equipe. O vendedor deve saber que atitude e abordagem tomar com clientes de "comportamento estranho". Além disso, a colocação de etiquetas eletrônicas e antenas (barras próximas às portas), por exemplo, podem gerar processos por dano moral caso a equipe não seja bem treinada para abordar o consumidor nos momentos em que o alarme dispara.

Os funcionários devem ser orientados a tratar as etiquetas não como instrumentos de alarme ou antifurto, mas como de controle, caso o alarme soe. Seguranças, operadores de caixa e etiquetadores têm de ser orientados não só em relação à abordagem dos clientes mas também à utilização dos equipamentos.

  • 30,7% - é o índice de furtos externos, feitos por clientes, entre as perdas do segmento de eletroeletrônicos em 2008, segundo a 9ª Avaliação de Perdas do Varejo Brasileiro, feita com 77 empresas em dezembro do ano passado.
  • 29,2% - é o índice de furtos feitos por funcionários e terceiros entre as perdas do atacado.

* reportagem do Caderno de Negócios da Folha de São Paulo, 23 de agosto de 2009.

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