quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A incrível arte de vender sapatos

Uma crônica bem humorada sobre esta subestimada profissão, sob a ótica de uma jornalista aficcionada por sapatos.

Hoje fui a uma loja de calçados para tentar achar uma sandália com algum salto. Algo que acrescentasse ao menos uns 5 cm aos meus portentosos 1,55m.

Encontrei uma que me pareceu muito confortável e com preço atraente. Como estava com pressa, já fui adiantando: "Olha, eu quero esta aqui ó, preta, 36". E a moça sumiu loja adentro. Depois de quase uns 10 minutos ela volta com três caixas. Logicamente que nenhuma delas continha a minha elegida, preta, 36. Quando eles vêm com duas ou mais caixas, pode esquecer, porque o que você pediu, eles não têm - bingo!

"- Olha, a preta 36 não temos, mas tem esta branquinha, esta amarelimha (tudo no diminutivo!) e a pretinha 37. Quem sabe com uma palmilha?" - Obrigada, moça, eu queria mesmo a preta 36. E palmilha faz o pé suar pra dedéu, Deus me livre!"

Entrei em mais duas lojas e a situação se repetiu, com poucas variações. Pedia a mesma sandália e os vendedores voltavam com pilhas de três metros de caixas, tais quais malabaristas chineses. Claro, sem minha sandália, que suponho, estava a anos-luz daqui, quiçá apenas na fábrica.

Fiquei pensando depois nesta maravilhosa arte do "ah, se não tem tu, vai tu mesmo." Deve haver uma razão para os vendedores agirem assim, provavelmente porque alguns incautos devem acabar desistindo de comprar o que realmente queriam e levar algum outro sapato "empurrado" pelo vendedor.

Agora imaginem isso aplicado em outras áreas do varejo. Na livraria: "Oi, por acaso vocês têm Os irmãos Karamázov? O vendedor volta com dois livros: "- Olha, este não tem, mas tem esta Bíblia e este aqui que é um best seller, da Aparecida Liberato, aquela irmã do Gugu, sabe, sobre numerologia, tá vendendo bem que só… E é grande também, já que você deve gostar de livro grande, pelo jeito…". "Ah, sim, vou levar o da Aparecida, afinal o conteúdo deve ser quase o mesmo."

E como seria a mesma situação em outras situações, vida afora? No trabalho, o seu chefe lhe pede: "Ricardo, traz pra mim aquele relatório que te pedi ontem." Você demora uns quinze minutos e volta esbaforido com três pastas: "Olha, seu Aderbal, aquele relatório não tem, mas tem este aqui que foi feito no mesmo período do ano passado, este outro que é muuuuito similar àquele, apenas houve mudanças na cotação do dólar, que estava a dois pra um àquela altura, e este…"

Nem preciso avançar pra sabermos que isso é exponencial. Eu, por exemplo adoro imaginar-me na redação do jornal e atender ao pedido do chefe de redação nos mesmos termos: "Patrícia, cadê a matéria sobre o Prêmio Nobel de Literatura?" "… Ah, esta não fiz, mas olha que legal essa matéria sobre cachorros hipertensos…"

Agora me digam: por que vendores de sapatos podem agir assim impunemente? (Alguns que vendem roupas também agem assim, mas é mais raro. No ramo dos calçados isso parece ser pré-requisito pra poder trabalha!)

Lutemos pois, pelos mesmos usufrutos dos vendedores de sapatos! Chega de tanto maniqueísmo. Não dá pra ser assim "ou isso ou nada feito", precisamos variar, dar e ter opções.

Alguém aí quer me contratar para vender sapatos?*

  • Antes que algum vendedor de sapatos com pouca presença de espírito venha me atirar pedras, aconselho a entrar no link original de onde copiei o texto e ler os comentários lá deixados...
  • Leitor(a) amigo(a), já esculachararam a autora do texto antes de você - e com tanta propriedade - que não sobraram mais palavras de desagrado que valham a pena ser escritas para criticar este post.
  • Válido também para quem se divertiu com a leitura e quer estender a diversão...

* por Patrícia Köhler, no blog
Cinta Liga.

1 comentários:

Anônimo disse...

Sou vendedora de sapatos e agiria do mesmo modo desses vendedores,pois ja fiz esses testes e deu certo,pois o cliente pode muito bem se agradar de outros sapatos e não so aquele,pois o importante pra mim é fechar a venda.

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