quinta-feira, 17 de setembro de 2009

As filas de espera da Birkin Bag e o mito da demanda reprimida

Quem é fã do seriado Sex and the City (eu!eu!eu!) deve lembrar da cena (da quarta temporada, ok?) em que a personagem Samantha, Relações Públicas de estrelas como Lucy Liu (interpretando ela mesma) arma a maior confusão com a cliente por se passar por ela para comprar uma Birkin Bag, fingindo que a bolsa era para a atriz (e por isto "furando a fila").

Alardeada por todo o lado e confirmada pelo presidente da marca, Patrick Thomas, em entrevista à Veja) a famosa fila de espera para se comprar uma bolsa Hermès, modelo Birkin, parece ser mais uma artimanha de marketing do que verdade, propriamente dita. Olha o que Ana Clara Garmendia, jornalista de moda residente em Paris, respondeu para uma leitora àvida por uma destas bolsas:

"Quer saber como compra uma? É mito a história que tem fila para comprar. A mais barata (igual a da foto, acima) custa 4700 euros. Primeiro empecilho. Segundo? Tem que saber a hora que as bolsas chegam. Em Paris, na loja da George V, são remessas diárias entregues por volta das 11h30. Muitas vezes não tem a cor que a cliente quer. Muitas vezes, você procura e as quatro ou cinco do dia se foram. É pão quente, como se fala no linguajar brasileiro. Chegou, vendeu.

Se for um modelo mais complicado, como este em couro de crocodilo, o preço sobe e a mercadoria pode estar em falta, mas quem quer ter uma Birkin não fica sem. É para isto que a Hermés criou a bolsa: para vender. O resto é frescura do mundo fútil da moda."

  • Eu fecho com a Ana. Do "alto da minha experiência" sobre o mercado de luxo e sobre varejo posso afirmar que faz todo o sentido.
  • E ainda tem a excelente história do americano Michael Tonello, que vivia de comprar e revender produtos no eBay (carreira promissora!) e ficou sabendo da saga desesperada de muitas mulheres atrás de uma Birkin para chamar de sua.
  • Ele conseguiu driblar a tal "lista" ao descobrir uma tática: ia numa loja Hermès e começava a escolher ítens de alto valor. Mostrando simpatia, conversava sobre assuntos diversos com os vendedores. Na hora de pagar, perguntava, como "quem não quer nada" se a loja tinha alguma Birkin. Voilá, num piscar de olhos a cobiçada bolsa aparecia. Bolsa que ele revendia rapidamente pela internet, bem mais cara do que pagou, para clientes afoitas e endinheiradas.
  • Ele fez este "esquema" durante alguns meses, até que a Hermès descobriu e ele se tornou persona non grata nas lojas da grife.
  • Michel Tonello diz ter comprado mais de 130 Birkin Bag desta maneira.
  • A história se tornou livro Bringing Home the Birkin (Levando a Birkin para Casa), ainda sem edição no Brasil.
  • Tonello conseguiu provar que as bolsas Birkin não são assim tãããão exclusivas: ficam escondidas à espera de um cliente que tenha o perfil da marca - muito dinheiro no bolso!

Pra quem chegou até aqui e ainda não sabe: Há diversas versões para a história da criação da Birkin Bag, que ao lado da Kelly Bag e dos lenços de seda tornaram-se os ícones da grife Hermès. Uma delas, contada pela escritora Dana Thomas em seu livro Deluxe: How Luxury Lost Its Luster, diz que a cantora Jane Birkin sentou-se próxima ao CEO da Hermès, Jean-Louis Dumas, num vôo entre Paris e Londres em 1984, quando ela abriu sua agenda Hermès e várias anotações cairam no chão. Dumas teria levado a agenda dela e a devolvido um tempo depois, com um bolso costurado na parte de trás (que se tornou padrão nas agendas da marca). Birkin aproveitou para contar a Dumas sobre sua dificuldade em encontrar uma bolsa de couro espaçosa para as mamadeiras das filhas e descreveu o seu ideal. Pouco depois, o modelo que ela descreveu chegou a seu apartamento com um bilhete assinado de próprio punho por Jean-Louis Dumas.

Jane Birkin, após desfile da coleção Hermès: jeans, All Star e uma bolsa Birkin preta novinha em folha. Descolada e chique, toujours! (outubro, 2008)

  • Adoro esta história: ouvir o cliente, traduzir seus desejos, colocar-se à disposição e retornar sempre = sucesso garantido!

* fotos de street wear de Paris e aspas, tudo da (ótima) Ana Clara Garmendia. A história da Birkin veio do Garotas Modernas. O víideo (de 1968) mostra a sempre jovem Jane Birkin em sua participação musical mais famosa, ao lado do então marido, Serge Gainsbourg. Clica vai, a música é inspiradora... rsrsrs

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu concordo, tem tdo sentido, é basicamente realmente um drible mercadológico, simplesmente para vender mais;
Encontrei a minha, pouco mais de 6 mil euros, com direito a refound de mais de 1 reais, por mero acaso, à noitinha, do tamanho, na cor do couro e dos metais , no tipo de couro , TUDO , e-ca-ta-men-te como eu queria.

Anônimo disse...

anônima que conseguiu comprar a bolsa, vc pode contar como foi? vc entrou na loja e pediu a bolsa? ou fez uma compra grande e então pediu/te ofereceram a bolsa?

Anônimo disse...

Mentira. Quem compra bolsas desse tipo não escreve comentários em blogs. Tá muito ocupada em sua mansão ou fazendo cruzeiros milionários pelo mundo.

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