segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

"Olhando? Temos vários modelos na vitrine... ali fora"

Esta crônica do escritor Maicon Tenfen, publicada no Jornal de Santa Catarina é genial!
O pior é que já presenciei respostas iguais a dada à Tia Giovana em muitos estabelecimentos fora de Blumenau (inclusive nos nossos!).
Vejam se não é assim mesmo: Muitas pessoas reclamam do comércio de Blumenau. No começo eu imaginava que o problema era apenas comigo. Acreditava que os vendedores me ignoravam quando eu entrava numa loja - ou ficavam de prontidão, sisudos, como se temessem um furto ou mesmo um assalto - por causa da minha insofismável cara de fome. É compreensível, eu pensava. O que esperar de um sujeito carrancudo, mal vestido e ainda por cima com modos e sotaque de camponês? Talvez tenham menos preconceito no outro lado da rua. Com o tempo, porém, fui percebendo que eu não era o único consumidor marginalizado da cidade. Tenho um amigo que entrou numa loja de brinquedos e levou 15 minutos para ser atendido. Ou melhor, não levou, porque no décimo quarto ele desistiu e foi embora. Detalhe: segundo consta, havia cinco funcionárias batendo papo atrás do balcão. Eis uma façanha dupla e digna de nota: de um lado o descaso com o dinheirinho do cliente (e do dono da loja, ai, ai, ai!) e de outro uma paciência capaz de envergonhar o mais digno devoto de Jó.Também minha Tia Giovana, coitada, passou por uma dura experiência no dia em que resolveu comprar um terno para o meu Tio Frederico (ela também deve ter cara de fome, um mal de família). Como entrou na loja e ninguém se apresentou para atendê-la, tomou a liberdade de manusear certas peças do mostruário. De repente: Algum problema, minha senhora? Nenhum. Só estou olhando uns ternos para meu marido... Olhando? Temos vários modelos expostos na vitrine. Se a senhora for ali fora, poderá vê-los mais à vontade. Quando a tia me contou essa história, perguntei se havia tomado alguma atitude condizente com as circunstâncias - escândalo ou assassinato, por exemplo. Ela respondeu que não. Contentou-se em dar meia-volta e sair para procurar o terno do Tio Frederico em outro lugar. A senhora tem toda razão, tia. Pra que perder tempo discutindo? Se não querem os nossos trocados em uma loja, é possível que queiram em outra, não é verdade? Nem tanto. Houve uma época em que decidi jamais voltar a qualquer estabelecimento que tivesse me esnobado, desprezado, destratado ou humilhado. Achava que não havia para onde fugir. Mas agora há. É uma loja fantástica, chamada Internet.
* Maicon Tenfen é escritor. Extraído do Jornal de Santa Catarina, de 10/12/07.

1 comentários:

Unknown disse...

Muito interessante o texto. Infelizmente não é só com ele que isso acontece. Já conheci pessoas de condição que ao irem informal para uma loja de roupas ou similar, não foram bem recebidos. Na verdade, a vendedora o levou para a parte dos ternos mais baratos. Na mesma hora chegou um de melhor aparencia e o tratamento foi bem diferente. E a internet, por outro lado, nao pergunta a cor da pela ou a condiçao financeira. So quer saber se pode ou nao pagar.

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