segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Magreza x Vendas

Para quem trabalha com moda é quase impossível deixar de notar que a magreza das modelos não tem nada a ver com a realidade das ruas. Este texto, de Danuza Leão, trata exatamente disso e lança uma questão para reflexão: - Se os criadores ampliassem suas coleções para os vários tipos físicos, as vendas poderiam aumentar. A marca que constrói esse conceito de hipermagreza = beleza, pode estar fechando muito seu foco de vendas.
Vamos variar de visual?
Os estilistas estão comendo mosca com essa mania de usarem, nos seus desfiles, só modelos imensas e magérrimas. Afinal, o que eles querem – com toda a razão – é vender, mas acabam vendendo em quantidade menor, suponho, já que poucas têm o físico das modelos.
É bem verdade que muitas mulheres imaginam que, se usarem aquelas roupas, vão ficar iguais a Angelina Jolie, talvez até casar-se com Brad Pitt; mas não é possível que todas vivam essa ilusão.
Se eu fosse estilista, criaria vários tipos de moda, para vários tipos de mulher. Nunca vi nenhum desfile só com manequins baixinhas, mas Chanel media pouco mais do que 1,50m e foi uma das mulheres mais elegantes do mundo. Isso sem falar que há homens que adoram mulheres pequenas, não só para poderem entrar num restaurante sem se sentirem baixinhos (e elas podem usar salto dez!) como também para botar no colo - difícil se encaixar numa mulher de 1,80m.
E tem os que gostam das mais gordinhas, para ter o que pegar e amassar. Não conheço um só homem que não preferisse Juliana Paes antes dela ter resolvido emagrecer.
Se eu fosse estilista, dividiria meu desfile em vários; num deles as manequins mediriam entre 1,50m e 1,60m; em outro só as que vestem número 40 e ainda um terceiro, para as que usam 42. Todas lindas, elegantes, sofisticadas e glamurosas, claro.
Imagine quantas mulheres adorariam ver esses desfiles. Se num desses fashion weeks da vida, em que tantos desfiles acontecem ao mesmo tempo, existissem alguns assim, diferentes e direcionados e as revistas de moda dessem uma força publicando fotos não como uma curiosidade do momento, mas normalmente, já que essas mulheres não só existem como são maioria, imagine quanto esses estilistas venderiam? Quantas mulheres se sentiriam felizes sendo aceitas no mundo das elegantes, apesar de pesarem 65 quilos ou um pouco mais - oh, que horror ?!
São raras as divas do cinema com o padrão físico de uma manequim. Quais são as atuais maravilhosas? Scarlet Johanson, Halle Berry, Penélope Cruz Monica Bellucci, Jennifer Lopez... Já reparou que nenhuma delas é um varapau, muito pelo contrário? Todas são o máximo e os homens babam por elas.
Isso me faz pensar que o mundo é dividido entre dois tipos de mulher: as manequins e as outras. As manequins existem exclusivamente para desfilar e fazer fotos, e as outras – bem, as outras vivem a vida real.
Não é preciso exagerar, podem ir com calma; no caso das mais baixinhas, é conveniente mostrar que uma mulher que mede 1,55m não deve jamais usar saltos altos demais, pois, além de não adiantar nada, fica desproporcional (Chanel, sempre Chanel). Além disso poderiam ensinar, sutilmente, como lidar com a altura. Com a não magreza absoluta. Com as cores... Não só para se parecerem com as tops models, mas para aprenderem a valorizar o que têm de melhor e saberem que, mesmo no peito de quem não nasceu com as medidas de uma Gisele, também bate um coração. E ter consciência disso pode torná-las lindas! Fazer isso seria não só criativo como também faria, provavelmente, que o volume de vendas crescesse.
E as mulheres viveriam mais felizes, sem a tortura dessa história de magreza.
* Danuza Leão escreveu este texto para a Folha de São Paulo, em 2006 - triste perceber o quanto continua atual!

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